O conhecimento sobre o Japão chegou à Europa através dos textos escritos pelos ocidentais que lá se encontravam. Apesar de algumas referências míticas e sem experiência directa (como Marco Polo) foi apenas depois de descrições da cultura e sociedade japonesa feitas por quem lá estava que o Ocidente se apercebeu (lentamente) do valor desta outra civilização.
A língua na qual os primeiros textos sobre o Japão foram escritos era a língua franca do comércio e da política mundial durante os séculos XVI e XVII, uma versão antiga que compila o castelhano e o português (que aliás, não eram línguas completamente distintas na época). Quanto aos autores, aqueles que tinham mais capacidade para descrever e relatar por escrito eram os Jesuítas.
Estes religiosos são por vezes erradamente considerados meros "padres", mas não devemos esquecer que os Jesuítas recebiam uma formação equivalente à da moderna universidade, em áreas como a geografia, astronomia, matemática, linguística, e que davam grande valor à compreensão das culturas com as quais contactavam. Com efeito, algumas das características mais importantes do calendário ritual, diversos traços do comportamento social e mesmo descrições de história política e económica, foram feitas pelos Jesuítas que se encontravam no Japão.
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Chanoyu - 茶 の湯 |
João Rodrigues, um português que chegou ao Japão em 1577, foi o primeiro a escrever sobre a "cerimónia do chá" -
chanoyu 茶 の湯. Ele próprio tinha chegado ao Japão com apenas 15 anos (mas tinha completado a formação jesuíta) e compreendia profundamente tanto a língua como a mentalidade japonsesas. Conceitos provenientes do Zen, que dizem respeito à contemplação, ao perfeccionismo e à minimalização estética, podem ler-se no seu tratado sobre o chá. Nesse documento escreve também sobre as folhas de chá, os utensílios e as codificações sociais associadas à cerimónia.
Na verdade, o chá não cativou o Ocidente imediatamente. Esta experiência de João Rodrigues não era compreendida pelos Ocidentais, que consideravam muito estranho tanto a bebida em si como todo o ritual. Assim, o próprio texto de Rodrigues ficou relegado para segundo plano e largamente desconhecido.
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Cerimónia do Chá de Mizuno Toshitaka |
Artigo em inglês da auturia de Steven D. Owyoung:
http://www.tsiosophy.com/2011/06/tea-and-jesuits-iii/
«Tem pois por profissão esta arte do Chá a cortezia, bom ensino, modestia, e moderação nas açoens exteriores, socego, e quietação do corpo, e alma, com humildade exterior, sem altiveza, e arrogancia, fugindo do fausto, pompa e aparato de fora, e magnificencia do trato forense, antes singeleza sem dobres como hé conveniente ao solitario do hermo, vestido honesto, e dessente, com certa ordem, limpeza, e chaneza em todas as couzas de seu serviço, e da conveniente a sua profissão, porque todos poem os olhos nos que professão esta arte, tendo fama no povo de homens de bons costumes, estimados, e reverenciados por taes. Donde para exercitarem estas couzas tocantes ao hermo, e apartamento, e contemplação o que há na caza e serviço della para os mover a saudades, e apartamento do trafego forense em algum modo, e a moderação das acçoens exteriores se convida a beber chá na dita caza, servindo o convite, e as demais cerimonias que alli se uzão tosca, e grosseiramente de exercício dessas couzas, e aparelho para beber o chá, que hé a recreação do hermo em lugar da do vinho de que uzão nos convites solemnes de trato politico.»
João Rodrigues, S.J.
História da Igreja do Japão, pp. 473-474