segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Apresentação do projecto

      Em Setembro de 1543, navegadores portugueses acostaram na ilha japonesa de Tanegashima, localizada no arquipélago de Ōsumi, ao sul de Kyushu. Este acontecimento desencadeou aquele que se tornaria o primeiro contacto conhecido entre europeus e japoneses, dando início ao designado Período de Comércio Namban. A expressão namban (lit. ‘bárbaros do Sul’), que deu nome a este período, é uma palavra sino-japonesa que originalmente designava as pessoas do Sul e Sudeste asiáticos, adquirindo um novo significado quando passou a designar os europeus, uma vez que estes alcançavam as terras nipónicas pelo Sul, através das rotas de navegação do Mar da China.

      Teve então início um período de intenso intercâmbio cultural, resultante do encontro de dois mundos, o Ocidente e o Oriente, período este que duraria cerca de um século, até à expulsão dos europeus do arquipélago japonês, com a promulgação do Édito de Expulsão, integrado na política do ‘Sakoku’ (‘país fechado’) levada a cabo pelo Shogunato Tokugawa (Período Edo). A clausura internacional a que se submeteu o Japão e que isolou o país dos contactos culturais e comerciais com o estrangeiro (salvo raras e pontuais excepções) só viria a ser quebrada com a queda do shogunato no séc. XIX, com a Restauração Meiji.

     Para todos os efeitos, o Período de Comércio Namban define uma primeira fase de abertura do Japão ao exterior e de consequente e gradual ocidentalização do País do Sol Nascente (sendo o Período Meiji integrado numa segunda fase). No séc. XVI, a ocidentalização japonesa estendeu-se a vários campos, com a influência europeia a definir mudanças e revoluções significativas, sobretudo a nível tecnológico, social, artístico e religioso.

     Desde a introdução das armas de fogo pelos Portugueses (factor que viria a mudar drasticamente os campos de batalha no Japão feudal) ao advento do (controverso e polémico) Cristianismo nas terras nipónicas, sem esquecer as manifestações artísticas da designada ‘arte namban’ característica deste período, o Período Namban definiu uma nova etapa no desenvolvimento das relações internacionais: foi singular no contexto da Expansão portuguesa, numa fase em que o Império Português definia as suas longitudes mais remotas no Oriente (sem olvidar outras potências ultramarinas europeias) e no processo de abertura da sociedade japonesa ao exterior, num primeiro e discreto (mas sem dúvida decisivo) primeiro passo no caminho da ocidentalização, ao “lançar as sementes” para a concepção do actual Japão, na perspectiva de super-potência do mundo ocidental.

     Como em tantos outros exemplos, na comparação entre a Europa (representada concretamente pelos Portugueses) e o Japão, surgem assimetrias imediatas e definem-se as diferenças entre os dois mundos. No entanto, o contacto entre estas duas realidades civilizacionais tão díspares promoveu desde muito cedo um encontro e não um desencontro. As diferenças providenciaram um campo de aprendizagem mútuo, onde ocidentais e orientais partilharam e assimilaram em igual medida, de forma directa ou indirecta e não poucas vezes de forma fortuita. As diferenças que à partida poderiam colocar entraves à comunicação e ao relacionamento entre os dois povos foram dinamizadoras de um fenómeno único e vibrante em termos de intercâmbio cultural num curto período de tempo, que ainda hoje se manifesta e prevalece na sólida amizade entre Portugal e o Japão. Um fenómeno histórico e cultural que merece ser (re)analisado e estudado em maior profundidade.


     Por ocasião do 470º aniversário da chegada dos Portugueses ao Japão, em 2013, o projecto Namban南蛮 1543-2013: Portugal e Japão, em colaboração com o Centro de História da Sociedade e da Cultura da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tem como objectivo essencial divulgar a vertente histórica e a herança cultural do Período de Comércio Namban, tendo como base a realização de um evento generalista que permita abordar as temáticas mais significativas deste período, onde se pretende promover uma salutar discussão histórica que permita delinear novas perspectivas e conclusões sob uma renovada luz, contribuindo assim não só para a divulgação mas também para um conhecimento mais aprofundado do período histórico.

      Tendo estes factores em conta, pretende-se a realização de um ciclo de conferências (entre outras actividades) subordinadas às temáticas mais significativas do Período Namban, inseridas em disciplinas concretas como a História da Expansão Portuguesa, História Militar, História da Religião, História da Arte, entre outras. No entanto, não se pretende apenas promover uma vertente académica no evento em questão, salientando-se também uma faceta mais cultural que servirá de complemento ao ciclo de conferências.

  Desta forma, dependendo do apoio institucional prestado, as actividades serão abrangentes, dentro das possibilidades, focando-se sobretudo na cultura japonesa, sem esquecer a relevância do 'encontro de culturas' em que se baseia o evento: Exposições (arte namban e história militar); Workshops (Caligrafia, Cerimónia do chá, Língua japonesa, Yukata, Haiku, Jogos tradicionais); demonstrações de artes marciais, música, ciclo de cinema e outras actividades, como a realização de um matsuri (festival tradicional japonês). Apesar das actividades acima mencionadas estarem desde já planeadas, nada impede (em princípio) que se juntem outras actividades ao evento, dependendo dos recursos à disposição da organização.

    Os dias em que decorrerá o evento ainda não estão confirmados mas serão divulgados atempadamente, com a divulgação do programa definitivo do Namban南蛮 1543-2013: Portugal e Japão.

    As novidades relativas à organização do evento serão divulgadas no blogue oficial e na página comunitária no Facebook, assim como algumas curiosidades pertinentes.


Contacto:
Email: namban470@gmail.com

Mais informações:
Blogue oficial: “Projecto Namban”: http://namban470.blogspot.pt/
Página comunitária (Facebook): https://www.facebook.com/Namban470

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