O haiku (俳句, haiku ou haikai) deriva duma forma anterior de poesia, em voga no Japão entre os
séculos IX e XII, designada por tanka; tinha 5 versos, de 5 e 7 sílabas, que
tratavam temas religiosos ou ligados à corte.
No século XV, os muitos concursos de
poesia tanka deram origem a um jogo de escrita de longos poemas: a primeira
estrofe, de 3 versos (com 5, 7 e 5 sílabas), era sugerida por um poeta e as
restantes iam surgindo e associando-se, num jogo competitivo entre vários
poetas. Este tipo de poesia era a renga, de temática clássica, e os primeiros
três versos (os mais importantes, pois serviam de mote) designavam-se por
hokku. No século XVI, tornou-se mais popular o haikai-renga, de
temática humorística.
Rapidamente a estrofe inicial de 3 versos
acabou por se tornar uma forma independente de poesia. Mas só no século XIX, o
mestre Masaoka Shiki lhe atribuiu um nome: haiku (pela junção das palavras haikai e hokku).
Os Quatro Mestres do Haiku |
Bashō (1644-94) | Buson (1716-83)
Issa (1763-1828) | Shiki (1867-1902)
A evolução:
Matsuo Bashō 松尾 芭蕉 (1644–1694), considerado o primeiro e maior poeta japonês de haiku, nasceu
samurai e adoptou a simplicidade tanto na vida como na criação poética.
Enriqueceu o
haiku, superando a artificialidade de poetas anteriores e tornando-o artistica
e socialmente aceite. A par de poemas de carácter lúdico, começou a valorizar o
papel do pensamento no haiku, imprimindo-lhe o espírito do budismo zen.
Versátil, os
seus poemas sugeriam os mais variados estados de espírito: humor, depressão,
euforia, confusão,... permitindo uma consciência da grandiosidade da natureza (física e humana).
Este caminho
Ninguém já o percorre,
Salvo o crepúsculo.
De que árvore florida
Chega? Não sei.
Mas é seu perfume.
Outros poetas do género se lhe
seguiram: Yosa Buson 与謝 蕪村 (séc. XVIII), Kobayashi Issa 小林一茶 (séc. XVIII), Masaoka Shiki 正岡 子規 (séc.
XIX).
De salientar Shiki, crítico de Bashō por
considerar que a sua poesia carecia de pureza e tinha demasiados elementos
explicativos: o haiku deveria ser a partilha de um momento e não a sua
explicação, privilegiando a descrição visual e o estilo conciso.
Nem Shiki nem os poetas contemporâneos
afirmaram uma ligação ao zen, como Bashō, embora seja inegável que a essência
desta filosofia continue presente em muitas composições haiku.
Matsuo Bashō |
As características:
“O haiku é mais do que
uma forma de poesia; é uma forma de ver o mundo. Cada haiku capta um momento de
experiência; um instante em que o simples subitamente revela a sua natureza
interior e nos faz olhar de novo o observado,
a natureza humana, a
vida”.
(A. C. Missias,
biólogo e poeta americano)
Basicamente, o haiku define-se como uma forma poética que, quanto à forma,
tem três versos curtos e, quanto ao conteúdo, expressa uma percepção da
natureza.
Os três versos (sem rima) apresentam, respectivamente, 5, 7 e 5 sílabas
métricas japonesas. A métrica japonesa assenta essencialmente no elemento
duração: por exemplo, a palavra Bashō, metricamente tem três sílabas ou
unidades de som, porque o /o/ final é longo.
São dois os elementos de conteúdo, em não mais do que duas frases: uma
percepção sensorial (particular e imediata) e uma percepção sugestiva (de maior amplitude circunstancial ou semântica). A separação entre os dois
elementos é feita por uma palavra ou sinal gráfico (kireji).
A percepção sensorial parte de um vocábulo associado a um elemento da
natureza e, frequentemente, às estações do ano (kigo) O kigo representa o aqui e agora que originou uma dada emoção/sugestão.
Não apresenta objectividade, mas a subjectividade expressa provém sempre de
uma objectividade captada pelos sentidos. Uma sensação concreta – visual,
auditiva, táctil – permite associações, sentimentos, memórias, o reconhecimento
de um conjunto mais amplo em que essa sensação se encaixa.
'Um pequeno cuco voa para uma hortênsia' - Yosa Buson |
O haiku capta o instantâneo, regista, enquadra, presentifica, evoca,
emociona... a ligação semântica entre as palavras expostas será sempre feita
pelo leitor.
É, pois, uma forma de poesia breve,
depurada, bela, simples e fluente. É uma reacção estética minimalista à crescente
consciência humana do caos.
Exige uma atenção aos mais pequenos eventos da natureza objectiva e
imediata; uma permanente atitude de espanto perante o fenómeno da natureza.
Pressupõe uma relação entre o particular e o geral, entre o mais
individualmente percebido e o ritmo cósmico da natureza, entre a efemeridade da
sensação e o eco que esta pode despertar na sensibilidade e na memória,
promovendo uma união entre o sujeito e o objecto. De referir que, no Oriente, o
conceito de união entre o homem e a natureza é diferente do ocidental: o homem
também é a natureza, por isso, o conceito de união remete para aquele momento
específico em que o homem reconhece essa natureza a que ele também pertence.
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