Foto de Inês Carvalho Matos |
O Senhor Ministro Kazuhiro Fujimura é, como os japoneses em geral, dotado de uma serenidade singular e de uma grande estoicidade perante o que o rodeia. No entanto, estas características não impedem de forma alguma a sua consciência de realidade. Melhor do que ninguém, o Ministro Plenipotenciário da Embaixada do Japão – em substituição do Embaixador no período de transição – reforçou as palavras do diplomata cessante, Nobutaka Shinomiya, ao referir-se a Portugal e aos portugueses como entidades que gozam de positivas referências aos olhos dos nipónicos. Numa clara exposição, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, inteirou os presentes da realidade política, económica e social do Japão.
Destacou
sobretudo que o país que
representa, à semelhança daquele onde detém comissão, é dotado de uma vasta
riqueza marítima, a nível de recursos piscícolas e minerais. O desenvolvimento
tecnológico do Japão permitiu a exploração das profundidades do Pacífico e a
sua rentabilização. Partiu
então desse argumento para recomendar a Portugal que aposte na tecnologia para o desenvolvimento económico, assegurando que o nosso país pode
considerar o Japão como um colaborador receptivo.
Numa Europa em decadência, em processo de fragmentação e de conflito, é para o Oriente que Portugal deve novamente virar o leme.
Em 1543, há
470 anos, o grande obstáculo dos contactos era, acima de alguma intolerância
religiosa – que acabará por valer a expulsão dos povos católicos das ilhas do
Sol Nascente – a língua. Ora no século XXI não se levantam barreiras à
cooperação entre Portugal e Japão se não as da falta de vontade ou o
desinteresse.
O Brasil
aproveitou há anos esta estima por parte dos japoneses, sendo que leva vantagem,
em largos números, de japoneses que aprendem a língua portuguesa. É uma
realidade – os japoneses vão ao Brasil aprender português e acolhem nas suas
ilhas uma extraordinária quantidade de brasileiros.
Conheci há uns
dias um caso de um aluno japonês que veio estudar português porque quer ser
polícia! Pode parecer inabitual à primeira vista, porém repare-se que nas
cláusulas prioritárias do recrutamento de agentes de autoridade em algumas
cidades – aquelas que detém comunidades expressivas de brasileiros – está a
fluência em língua portuguesa. Eleva-se o pragmatismo, também característica
nipónica, pois um agente que entende português é um construtor de uma ponte
sólida de comunicação entre a segurança e a comunidade respectiva.
Pensar mais
como japoneses – serenidade, planeamento e perseverança – no sentido de se
conceberem estratégias a longo prazo, é uma porta aberta para a saída da boca
de uma Europa que nos engole.
Foi
com pena que constatei a ausência, na conferência do Senhor Ministro, de
representação autárquica. Estou certo que motivos de força maior impediram o
actual executivo, que tomou posse na manhã do dia em que o representante dos
interesses do Japão em Portugal esteve na cidade de Coimbra, estar presente na
sua recepção formal e conferência. Mas também estou certo que serão dadas
justificações atempadamente à Embaixada do Japão, em conjunto com a promessa de
que estes contactos não ficarão por aqui e que será dada a devida relevância às
relações destes dois países em prol do benefício mútuo e de mais 470 anos de
amizade.
Diogo Teixeira Dias
Coord. Namban 南蛮 1543-2013
Coord. Namban 南蛮 1543-2013
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